Hoje o tema é delicado, mas pedimos que fique com a gente nessa leitura até o final, pois fizemos essa newsletter com muito carinho, respeito, pesquisa e informações importantes!
O suicídio ainda é cheio de tabus na nossa sociedade, pois o assunto envolve questões absolutamente delicadas relacionadas à vida, como relacionamentos, consumo de substâncias químicas, conflitos profissionais, arrependimentos e culpa.
Mas se existe uma boa notícia envolta dessa pauta tão difícil é que muitas pesquisas têm sido desenvolvidas nos últimos anos, a rede de apoio tem se fortalecido, os profissionais de saúde e de prevenção estão se capacitando e as informações podem nos ajudar a colaborar com quem precisa de ajuda, seja a pessoa que passa pelo problema ou a família dela.
Nossa abordagem hoje será voltada a dois grupos que são ainda mais vulneráveis nessa temática: criança e adolescente e população LGBTQIA+.
Uma análise do jornal Folha de São Paulo, baseada nos dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, entre 2013 e 2023, mostra que, pela primeira vez, os registros de ansiedade entre crianças e jovens superam os de adultos.
Conforme a publicação do dia 31 de maio deste ano, em 2023, a taxa de pacientes de 10 a 14 anos atendidos por transtornos de ansiedade era de 125,8 por 100 mil, e a de adolescentes, 157 por 100 mil. Já entre adultos acima de 20 anos, a taxa era de 112,5 por 100 mil. O agravamento entre os jovens tornou-se mais evidente a partir de 2022.
A falta de um suporte emocional adequado e o isolamento social intensificado pela era digital são apontados pelos especialistas como principais gatilhos no aumento de ansiedade, depressão, autolesão e até suicídio entre esse público.
“A divulgação excessiva de corpos ‘padrão’, riqueza e sucesso material por influenciadores tem gerado angústia e baixa autoestima, principalmente em adolescentes do sexo feminino", observa a defensora pública e coordenadora do Núcleo de Defesa da Criança e do Adolescente (Nudeca), Débora Maria de Souza Paulino.
A adolescência, de acordo com ela, por ser uma fase crítica de desenvolvimento, torna esses jovens especialmente vulneráveis. Para enfrentar o cenário alarmante da saúde mental entre crianças e adolescentes, a orientação é redobrar a atenção da família e o diálogo com a comunidade escolar sobre o uso excessivo de redes sociais e a pressão para atender padrões estéticos.
“O ambiente social dos adolescentes está cada vez mais pressionado por influências externas que comprometem sua saúde mental. Falar sobre isso é fundamental para prevenir o agravamento da situação, além de proporcionar apoio familiar e a busca por ajuda profissional”, enfatiza a defensora, que pontua, ainda, que essas demandas precisam ser “enfrentadas, discutidas, debatidas por todos aqueles que circundam a criança/adolescente incluindo a participação delas”.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que o uso de telas seja limitado para crianças e adolescentes, conforme a idade. Bebês com menos de 2 anos não devem ter contato com telas, enquanto crianças de 2 a 5 anos podem utilizar até uma hora por dia. Para crianças de 6 a 10 anos, o limite recomendado é de até duas horas diárias, e adolescentes entre 11 e 18 anos podem usar telas por um período de duas a três horas. Essas orientações ajudam a evitar problemas relacionados ao uso excessivo de tecnologia, como distúrbios de sono, déficit de atenção e problemas comportamentais.
Além disso, a SBP reforça que o uso de telas deve sempre ser supervisionado por um adulto, garantindo que os conteúdos acessados sejam adequados para a idade e que a criança ou adolescente não se exceda no tempo de uso. É importante que as famílias criem regras claras sobre o uso da tecnologia, inserindo os dispositivos de forma equilibrada na rotina. Momentos como após a lição de casa ou durante atividades recreativas são oportunidades adequadas para que as telas sejam utilizadas com propósito e moderação.
EM FAMÍLIA
E o que é possível fazer em família para contribuir com essa questão?
O livro "Meu filho tá online demais" da pediatra Ana Escobar traz orientações valiosas para as famílias que buscam equilibrar o uso da tecnologia com uma vida saudável, tanto física quanto mental. A autora aborda temas atuais como o cyberbullying e o uso excessivo de telas, oferecendo dicas práticas para pais e educadores sobre como lidar com esses desafios.
Ana Escobar enfatiza que o equilíbrio entre o digital e o físico é fundamental para o desenvolvimento das crianças e jovens, e propõe soluções para minimizar os impactos negativos da tecnologia. Além disso, ela compartilha conselhos sobre a dinâmica familiar e a importância de manter diálogos abertos para promover um ambiente seguro e saudável, tanto em casa quanto na escola.
A construção de uma relação saudável com as telas começa no ambiente familiar. As famílias devem estabelecer exemplos, regras e combinados para o uso de dispositivos digitais, como celulares e tablets. Isso pode incluir permitir o uso de telas após atividades importantes, como fazer a lição de casa ou refeições, sempre considerando a dinâmica e rotina de cada casa. Assim como há horários para a escola, alimentação e descanso, é importante criar momentos específicos para o uso recreativo das telas, garantindo que não interfira nas demais atividades diárias essenciais ao desenvolvimento saudável da criança.
NA ESCOLA
Uma pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) revela que seis em cada dez escolas no Brasil têm regras para o uso de celulares pelos alunos. Em 28% das escolas, o uso é totalmente proibido. A pesquisa também destaca um aumento nas restrições ao acesso à internet por Wi-Fi nas escolas.
A situação da população trans é igualmente preocupante. Um estudo da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) revela que a discriminação e a marginalização que pessoas trans enfrentam diariamente contribuem para elevados índices de depressão e suicídio.
Os dados sobre saúde mental na população trans são um alerta para a necessidade urgente de políticas públicas e cuidados especializados.
Segundo um relatório intitulado “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil”, do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT e do Departamento de Antropologia e Arqueologia, 85,7% dos homens trans já pensaram ou tentaram cometer suicídio. De maneira geral, 42% da população trans já tentou suicídio, um número assustador quando comparado à população em geral, cuja taxa é de cerca de 4,6%.
Atenta a isso, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul por meio do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh), realizou nesta semana o encontro "Diálogos sobre Saúde Trans: Lançamento da Consulta Pública e Reflexões sobre Ambulatórios Trans no Mato Grosso do Sul".
“Nós estamos dando visibilidade ao funcionamento e à habilitação do ambulatório trans, que é uma conquista para a população LGBTQIA+. Também estamos apoiando a SES nesta consulta pública para que possamos construir o melhor funcionamento do ambulatório, de modo que ele atenda todas as pessoas. É um passo importante na luta pelos direitos das pessoas LGBTQIA+”, destacou a coordenadora do Nudedh, defensora pública Thaisa Raquel Defante.
A iniciativa contou com palestras que abordaram temas como a humanização no atendimento de saúde, com foco nos desafios enfrentados pela população trans, apresentados pela assistente social Bel Silva.
O psicólogo João Vilela discutiu a importância de garantir um atendimento de qualidade para a comunidade trans, destacando a necessidade de eventos como consultas públicas.
A assistente social Lesly Lidiane encerrou o evento com uma palestra sobre a revisão da linha de cuidado no ambulatório trans, enfatizando a importância da participação comunitária e profissional para um atendimento mais humanizado e inclusivo.
A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul realiza constantes ações para proporcionar visibilidade e informações sobre saúde mental para que mais pessoas possam buscar auxílio e construir uma rede de apoio a quem sofre com essa dificuldade.
Em 2021, a Defensoria reforçou o trabalho na proteção de pessoas com ideação suicida e intensificou o trabalho desenvolvido pela instituição, visando proporcionar o atendimento adequado em Campo Grande.
Na época, a instituição instaurou um Procedimento Preliminar de Apuração (PAP) para verificar possível falha no atendimento a pessoas com ideação suicida e automutilação pela Rede de Atenção Psicossocial de Campo Grande.
Isso ocorreu porque Campo Grande apresentava altos índices de suicídio. O levantamento da Secretaria de Saúde do Município, referente ao biênio 2019 – 2020, apontava que, na Capital, havia 2.705 casos de tentativa de suicídio e automutilação; 1.066 casos relacionados ao uso de álcool; 432 associados a algum transtorno mental; e 20 relacionados à identidade de gênero.
Diante desses dados preocupantes e do período pandêmico que o mundo atravessava, a Defensoria realizou uma série de reuniões com membros do Poder Público.
Ainda em 2021, a Escola Superior da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul (ESDP) realizou o Webinário - Saúde Mental no Sistema Único de Saúde (SUS).
A instituição pode intervir diretamente para garantir o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), seja na busca por vagas em serviços especializados, como atendimentos psicológicos e psiquiátricos, seja no encaminhamento para tratamentos adequados.
Intervenção Jurídica: A Defensoria pode ingressar com ações judiciais para garantir o acesso imediato a tratamentos e cuidados de saúde mental.
Orientação e Encaminhamento: A instituição orienta sobre os direitos dos cidadãos e realiza encaminhamentos para os serviços de saúde mental no SUS.
Atendimento Prioritário: Casos envolvendo crianças, adolescentes e pessoas trans podem ser tratados com prioridade para garantir a preservação de seus direitos à saúde.
O Setembro Amarelo é uma oportunidade para que possamos repensar as formas de cuidar da nossa saúde mental e das pessoas ao nosso redor. Buscar ajuda profissional, fomentar o diálogo aberto e acolher com empatia são passos fundamentais para a prevenção e tratamento de transtornos psicológicos.
Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda, procure a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul.
Agende o seu atendimento através do site www.defensoria.ms.def.br.
Núcleo de Atenção à Saúde (NAS)
Endereço: Rua Barão de Melgaço, nº 128 , Centro, Campo Grande/MS
Telefone: (67) 3317-8757
Centro de Valorização da Vida
O CVV oferece serviço voluntário e gratuito de prevenção do suicídio e apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, com atendimento pelo número 188 (sem custo de ligação), ou pelo www.cvv.org.br via chat, e-mail ou carta.